domingo, 27 de março de 2011

ALGO DE NEGRO

O tema da escravidão em nosso país parece não nos deixar em paz. Foi algo tão longo e tão cruel que carregamos e somos carregados de ranços da época colonial. Uma dela é a cordialidade. Este é o mote de pesquisa do FOLIAS nesta nova montagem Algo de Negro. Esta simpatia que temos e achamos super bacana influência no nosso comportamento e na nossa alienação seja ela passiva ou revolucionária. A peça de caráter narrativo e popular se dirige diretamente para a platéia e traz uma alegoria das mitologias africanas para o urbano das ruas. Porém sem serem folcloristas. A música tem papel determinante na encenação desta peça, assim como tem na cultura negra, e o caráter narrativo também vem da cultura oral típica dos povos africanos da qual somos descendentes na qual é ofuscada pelo raciocínio ocidental da razão aristotélica.
Esta peça mostra a limpeza ética que fizeram na cidade. Mandando os pobres, pretos para as periferias e como estão fazendo neste momento destruindo as favelas e mandando o povo para os municípios próximos, pois em São Paulo não cabe mais. Os personagens são moradores de rua que com o rito do dia-a-dia se tornam entidades da religião africana. E estes personagens são proibidos de pensar, bastando apenas ser cordial. Esta é a característica do brasileiro. A cordialidade impede de sermos violentos, de quebrar tudo como no Egito, das historias de confrontos na Argentina, Chile e outros países vizinhos. Mas a gente não. Somos cordiais e tem gente que ainda se orgulha desse nosso jeitinho de ser. Jeitinho que só favorece aos poderosos. É, tomamos tapas na cara e ainda somos simpáticos. Ta na hora de acordar. Temos que ser humildes entre nós, mas arrogantes com eles. Arrogância vem do grego e significa trazer pra si a responsabilidade. Vamos puxar para cada um essa responsa porque as coisas no nosso tempo acontecem por contaminação. É o vírus.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Carta sobre a Ação do Dolores na entrega do prêmio Shell 2011

Alguma coisa aconteceu na noite de 15 de março de 2011 na entrega do Prêmio Shell. Alguma coisa aconteceu. Na verdade aconteceram algumas coisas. Tudo começou quando O grupo Dolores Boca Aberta subiu ao palco para receber o prêmio na Categoria Especial pela pesquisa e criação de A Saga no Menino Diamante – Uma Ópera Periférica que concorriam com atriz Karin Rodrigues, viúva de Paulo Autran (morto em 2007) e indicada pelo encaminhamento e socialização do acervo pessoal do ator a instituições culturais. No discurso o ator Tita Reis leu um texto, enquanto a atriz Nica Maria despeja em sua cabeça um líquido preto simbolizando o petróleo, onde ironizava a patrocinadora do evento pelas contradições que ela carrega. Isso foi a primeira coisa que aconteceu. E a partir daí vieram os comentários. E será a partir destas falas que irei descarregar o verbo.
Norival Rizzo o senhor acha que a Categoria especial não deveria ter concorrência e que o prêmio teria que ter sido entregue a atriz Karin Rodrigues para o arquivo pessoal de Paulo Autran, acredito que o senhor não tenha assistido a peça A Saga do Menino Diamante, e mesmo assim acha que o prêmio foi injusto. Então vamos lá, Paulo Autran era um homem dos palcos a sua história também é a história do teatro brasileiro, um sujeito que ganhou todos os prêmios, em vida, existente em nosso país. Este homem fez tantas peças que em 1994 ele se despediu do teatro com a peça A Tempestade, assim como Shakespeare, foi a sua última peça, de lá pra cá o que aconteceu foi uma gama de diretores e produtores fazendo peças para enaltecê-lo para que mostrasse todo o seu virtuosismo, que era inquestionável, parecia uma homenagem em vida preparando para a sua morte que só ocorreu em 2007. Paulo Autran era um homem dos PALCOS. Só saiu dele quando o seu corpo não agüentou mais. E tenho convicção senhor Norival Rizzo que se Paulo Autran, que fazia um teatro para a elite paulistana, estivesse vivo ele não daria o prêmio destinado ao teatro para um acervo pessoal de um ator, ele como Homem de Teatro, daria para quem estivesse fazendo teatro pois era somente isso que ele fez na vida. Mesmo o Dolores não fazendo teatro em palcos, e nem para as elites, ele entenderia a questão maior do teatro que só existe na relação palco platéia e disso ele entendia muito bem. Assim como ele apoio a apresentação do Teatro da Vertigem na igreja, lembra? Ele não era tão limitado assim.
O Dolores não tinha um espetáculo eles tinham um projeto. Além da pesquisa intensa e de uma qualidade artística memorável havia dois ônibus que levava e buscava as pessoas de comunidades distantes. Começava às 22h e ia até as 5h. Era um acontecimento. Tive a honra se assistir ao lado dos jurados Valmir Santos e Marici Salomão. Eles adoraram! Fiquei surpreso em vê-los por ali naquelas horas em pela zona leste. Se a empresa Shell fez algo de produtivo para a sociedade foi em nomeá-los como jurados, além desses Alexandre Mate e Mario Bolognesi figuras que transitam neste meio. Se fossem outros com certeza nem teriam assistido a este espetáculo, quer dizer projeto, ou melhor, as duas coisas juntas e misturadas. Ainda bem senhor Rizzo, que colocaram neste júri pessoas sensatas e abertas a novas proposições cênicas que não estão presas ao passado e nem a nenhum rabo. Mas não quero pegar o senhor para Cristo, eu sei, o senhor não assistiu A Saga, assim como o senhor existem muitos que acreditam que só exista teatro na praça Roosevelt, Bela Vista e em alguns bairros nobres da capital. Aqui, do lado esquecido da cidade, fazemos arte no mesmo nível que do outro lado, porém não copiamos os seus modelos. E talvez seja isso que os deixam inconformados. E só pra finalizar senhor Rizzo, disso o senhor já sabe só vou enfatizar, TEATRO É UMA ARTE EFÊMERA que acontece no aqui e agora, o resto é registro e vai para um lugar chamado Museu.

por: Emerson Alcalde

segunda-feira, 14 de março de 2011

Workshop de Dramaturgia


Pretende-se apresentar um panorama geral da dramaturgia desde O teatro grego, passando pelos autos medievais, Shakespeare até a contemporaneidade e os principais autores brasileiros. Exposição e analises dos gêneros: Lírico, épico e dramático. A estrutura básica da construção de roteiros. Finalizando com um exercício pratico de escritura de uma cena.

Inscrições pelo site: http://www.periferiainvisivel.com.br

Local: Periferia Invisível

Data: 19/03

Horário: 20:00 horas

domingo, 6 de março de 2011

Conjugados

Neste sábado assisti Conjugados no espaço Pyndorama em Perdizes. Apesar de ser nesta área nobre da cidade, o espaço é uma sala improvisada com teto sem reboque, não é uma sala convencional, quem ocupa é Cia Antropofágica. A peça é uma junção de três coletivos: Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Arte, Cia Estável de Teatro e a banda Nhocuné Soul. A pegada é socialista. As questões sociais expostas de uma maneira sutil, suave, porém com cenas fortes. A qualidade artística é fudida. Com ótimos atores. A iluminação com lâmpadas essas que usamos em casa. Às vezes lanternas e alguns caixotes fazendo a cenografia e também a luz com lâmpadas acessas pelos próprios atores. Um teatro de ator. Um teatro social. Um bom teatro. A referência a Brecht não é acidental, mas não vou chamar de brechtiana, porque não é, é ela mesma. As referências vem durante o processo que neste caso durou 2 anos ensaiando nas quartas de tarde, eita vagabundagem, é assim mesmo, se ensaia na hora que dá. E também sãos loucos abdicando da vida convencional, mas se dedicar a arte e obviamente ao social. Essa é a parada. Os grupos são de periferia ou trabalham na periferia. Longe dos estereótipos. A musica é ao vivo, pelos atores e principalmente pelo vocalista Renato do Nhocuné Soul, Nhocuné é um bairro na zona leste e tem na pronúncia advinda dos tempos da senzala.
Tive a sorte de assisti ao lado da polemica pesquisadora Iná Camargo Costa, que não parava de falar um minuto durante o espetáculo, com uma enorme satisfação, discordando de algumas falas as vezes, como em uma revelação de uma personagem/atriz que diz Eu decidi parar de trabalha (Iná comemora), ela continua ... para os outros... (Iná inconformada: Tem que parar de trabalhar de vez). Depois ainda rolou uma festinha e muita discussão e música.
Fugindo de estereótipos de periferia que se vende. Eles não ligados ao Hip-Hop, nós obviamente sabemos que esta cultura não é e nunca foi a predominância nas periferias brasileiras nem mesmo em SP. São violeiros, das bandas de Patriarca, Vila Ré, Itaquera etc. Em uma cena tem um funk (carioca), mas a peça vai além. Chega em uma lugar de incomodo. Fica um vazio. Uma melancolia. E uma sede de mudança na nossa vida na periferia.
Para assistir para ter um espaço do tamanho de uma sala e nada mais.