sexta-feira, 18 de março de 2011

Carta sobre a Ação do Dolores na entrega do prêmio Shell 2011

Alguma coisa aconteceu na noite de 15 de março de 2011 na entrega do Prêmio Shell. Alguma coisa aconteceu. Na verdade aconteceram algumas coisas. Tudo começou quando O grupo Dolores Boca Aberta subiu ao palco para receber o prêmio na Categoria Especial pela pesquisa e criação de A Saga no Menino Diamante – Uma Ópera Periférica que concorriam com atriz Karin Rodrigues, viúva de Paulo Autran (morto em 2007) e indicada pelo encaminhamento e socialização do acervo pessoal do ator a instituições culturais. No discurso o ator Tita Reis leu um texto, enquanto a atriz Nica Maria despeja em sua cabeça um líquido preto simbolizando o petróleo, onde ironizava a patrocinadora do evento pelas contradições que ela carrega. Isso foi a primeira coisa que aconteceu. E a partir daí vieram os comentários. E será a partir destas falas que irei descarregar o verbo.
Norival Rizzo o senhor acha que a Categoria especial não deveria ter concorrência e que o prêmio teria que ter sido entregue a atriz Karin Rodrigues para o arquivo pessoal de Paulo Autran, acredito que o senhor não tenha assistido a peça A Saga do Menino Diamante, e mesmo assim acha que o prêmio foi injusto. Então vamos lá, Paulo Autran era um homem dos palcos a sua história também é a história do teatro brasileiro, um sujeito que ganhou todos os prêmios, em vida, existente em nosso país. Este homem fez tantas peças que em 1994 ele se despediu do teatro com a peça A Tempestade, assim como Shakespeare, foi a sua última peça, de lá pra cá o que aconteceu foi uma gama de diretores e produtores fazendo peças para enaltecê-lo para que mostrasse todo o seu virtuosismo, que era inquestionável, parecia uma homenagem em vida preparando para a sua morte que só ocorreu em 2007. Paulo Autran era um homem dos PALCOS. Só saiu dele quando o seu corpo não agüentou mais. E tenho convicção senhor Norival Rizzo que se Paulo Autran, que fazia um teatro para a elite paulistana, estivesse vivo ele não daria o prêmio destinado ao teatro para um acervo pessoal de um ator, ele como Homem de Teatro, daria para quem estivesse fazendo teatro pois era somente isso que ele fez na vida. Mesmo o Dolores não fazendo teatro em palcos, e nem para as elites, ele entenderia a questão maior do teatro que só existe na relação palco platéia e disso ele entendia muito bem. Assim como ele apoio a apresentação do Teatro da Vertigem na igreja, lembra? Ele não era tão limitado assim.
O Dolores não tinha um espetáculo eles tinham um projeto. Além da pesquisa intensa e de uma qualidade artística memorável havia dois ônibus que levava e buscava as pessoas de comunidades distantes. Começava às 22h e ia até as 5h. Era um acontecimento. Tive a honra se assistir ao lado dos jurados Valmir Santos e Marici Salomão. Eles adoraram! Fiquei surpreso em vê-los por ali naquelas horas em pela zona leste. Se a empresa Shell fez algo de produtivo para a sociedade foi em nomeá-los como jurados, além desses Alexandre Mate e Mario Bolognesi figuras que transitam neste meio. Se fossem outros com certeza nem teriam assistido a este espetáculo, quer dizer projeto, ou melhor, as duas coisas juntas e misturadas. Ainda bem senhor Rizzo, que colocaram neste júri pessoas sensatas e abertas a novas proposições cênicas que não estão presas ao passado e nem a nenhum rabo. Mas não quero pegar o senhor para Cristo, eu sei, o senhor não assistiu A Saga, assim como o senhor existem muitos que acreditam que só exista teatro na praça Roosevelt, Bela Vista e em alguns bairros nobres da capital. Aqui, do lado esquecido da cidade, fazemos arte no mesmo nível que do outro lado, porém não copiamos os seus modelos. E talvez seja isso que os deixam inconformados. E só pra finalizar senhor Rizzo, disso o senhor já sabe só vou enfatizar, TEATRO É UMA ARTE EFÊMERA que acontece no aqui e agora, o resto é registro e vai para um lugar chamado Museu.

por: Emerson Alcalde

2 comentários:

  1. O que falar destas pessoas que se acham: Deuses da saber cultural, teatral, artístico, quando os/as mesmos/as nunca saíram de suas tocas e ficam deduzindo que: Isso é Bom, Isso não é Bom.
    Mas convenhamos, quem faz a parada acontecer, faz ela acontecer em qualquer lugar, pois acredito que o grande palco é a rua, praça, esquina, beco, enfim, no meio do povo.
    Quem sabe um dia, estas pessoas possam vir nos visitar e ver que aqui, antes de mais nada, existem pessoas que estudam, criticam, compartilham e vivenciam a cultura da sua melhor forma, com a comunidade.
    Parabéns emerson pelo texto crítico e sensato.

    xXx

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