segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O pior pastel e a melhor semana.

Comi o pior pastel e tomei a pior cerveja! Desavisado? Não. Tem uma placa na entrada descrevendo as opções do Bar. Este é o Sarau do Binho, no Campo Limpo zona sul de Sampa. O clima é descontraído, aconchegante. Nas paredes do bar há quadros de pintura, sinal de que este bar tem um Q. a mais, ao entrar da rua do evento podemos ver o povo na porta, o clima é hoots. Essa é a zona super! Me lembro com nostalgia quando freqüentava bailes e shows de Hip-Hop nos anos 90. Era sensacional! Se você nunca viu um show dos Racionais MC’S na zona sul, então você nunca viu um show dos Racionais de fato. Pois ali é diferente, e perceba que pra eu assumir isso é difícil porque sou da zona leste e um defensor desta. Mas tenho que ser realista a sul é embaçada, mano! Mas voltando ao Sarau, com os latidos do cachorro vira-lata correndo atrás dos carros, a poesia se inicia de uma maneira informal sem inscrições, o mestre de cerimônias sente o espírito do momento e convida os poetas para declamarem. Ele não faz distinção entre os freqüentadores mais assíduos dos que estão indo primeira vez, ele te faz sentir em casa. Manoel de Barros foi o texto inaugural desta noite de segunda-feira, narrativa da passagem de Guimarães Rosa por sua terra. Não podia começar melhor. E daí por diante passou criança recitando cordel, cantando musicas de amor, rappers, teve até canção de Secos e Molhados, cenas de teatro, e o músico por fim Gunnar, poetas vendendo seus livros, CDs, broches xerocados de celebridades da região. Tudo isso faz parte desta celebração. A diversidade é tão ampla que encontrei por lá a Ingrid Maria (Hamburgo/Alemanha) doutoranda em letras e sua pesquisa: literatura periférica do Brasil (muitas idéias trocadas. Nos contou das relações de seu povo com os estrangeiros, atualmente a gíria mais usada é chamar de “Victíma”. E nesta noite conheci a Lucía Tennina (Argentina) professora de literatura brasileira em seu país, e ficou de me ajudar na pesquisa da dramaturgia contemporânea pós-colonial passando os contatos de seus hermanos dramaturgos. Agora o mais curioso desta galera são as Caminhadas Culturais: A Expedição Donde Miras, eles vão a pé, já foram pra Curitiba, Paraty etc. falando poesias, cantando, atuando,... . Acabaram de chegar da Caminhada Lua Cheia. E o objetivo é ir pelos países da América Latina, meu Deus, por que eu fui conhecê-los? Bom, agora eu vou ter que caminhar com esse povo. E voltando novamente ao bar, este local feito pra se beber álcool, uma das drogas que mais mata no nosso país, e onde as pessoas se encontram, é no bar que a literatura está mais viva neste momento. Nunca se fez tanto saraus. Os teatros estão cada vez vazios. E os bares cada vez mais cheios. Por quê que a gente ainda quer fazer teatro no Teatro? Eu não sei. Só sei que atravesso a cidade para me encontrar com “pessoas”, no pior dia da semana (segunda), com o pior pastel entre outros piores, mas principalmente pra juntos comungarmos a palavra e ter uma melhor semana.

Serviço:
SARAU DO BINHO
Todas as segundas-feiras, a partir das 21h. Bar do Binho. R: Avelino Lemos Jr., 60 Campo Limpo, Zona Sul. Entrada franca. 11 5844-4535.

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